O clássico é sinônimo de confusão tanto dentro quanto fora de campo
Uma rivalidade que atravessa as quatro linhas. Celtic e Rangers, rivais não apenas em campo. Religião e terrorismo fazem parte desse contexto que separa os católicos e protestantes, que começou em 25 de maio de 1888, na primeira partida entre as equipes, com vitória do Celtic por 5 a 2.
Uma história entre os times que se difere através do tempo. O Rangers surgiu primeiro, em 1872, fundado por estudantes de Glasgow, tinha seus jogadores e torcedores como protestantes. As cores do uniforme, azul, branca e vermelha, fazem referência às cores da bandeira do Reino Unido. Já o Celtic surgiu em 1887, da iniciativa de um padre irlandês, Walfrid, que utilizou seus paroquianos para fundar um clube para arrecadar fundos para os pobres irlandeses, cujo nome era em referência aos antigos povos da Irlanda, os celtas. Sua torcida era toda ela católica, já que muitos irlandeses migraram para a Escócia após uma praga que atacou a maioria das plantações de batata, principal fonte de renda e de alimentação do povo irlandês, fazendo-os a procurar abrigo também na América do Norte e outros países britânicos. As cores do time, verde e branco, são as mesmas da Irlanda e o trevo de quatro folhas no escudo – que para os irlandeses significava a Cruz de Cristo – também faz referencia a igreja católica.
Mas a religião não é o único motivo além do futebol que eles estão envolvidos. Os torcedores do Celtic levam ao estádio bandeiras com imagens relacionadas ao catolicismo e apoio ao grupo terrorista do exercito republicano irlandês IRA (Repúblicas Armadas da Irlanda). Já os torcedores do Rangers estampam bandeiras cm imagens da Rainha da Inglaterra e de apoio ao grupo terrorista Ulster.
Com uma rivalidade tão acirrada, não é difícil de imaginar conflitos entre eles. Um dos primeiros casos de violência aconteceu em 1909, numa tragédia que matou 180 pessoas no estádio Hampden Park. Em 1971, ocorreu uma das brigas mais trágicas, na qual morreram mais de 200 pessoas e cerca de 70 pessoas ficaram feridas.
A rivalidade era tão grande que até 1988 nenhum jogador católico havia atuado pelo Rangers e nenhum protestante atuado pelo Celtic. Esse estigma acabou Maurice “Mo” Johnston, artilheiro pelo maior rival Celtic, tornou o primeiro jogador a romper a barreira. Porém, sua escolha não foi das melhores, tornando-se odiado pelas duas torcidas, chegando ser ameaçado de morte.
O histórico de conflitos começou a mudar a partir da década de 90, muito influenciada pelo “fim” do hooliganismo na Inglaterra, onde, após muitas brigas na justiça, esses torcedores acabaram banidos dos estádios e os times ingleses penalizados pela Uefa. Atualmente, mesmo com os nervos um pouco mais brandos, The Old Firm como é conhecido, fazem um duelo que pára toda a Escócia, mas ainda tem muita preocupação da segurança, onde as autoridades sugeriram inclusive o fim do dérbi.
A hegemonia dos dois é tão grande em termos locais que desde 1966, apenas dois times conseguiram quebrar a seqüência. O Dundee e o Aberdeen, até então comandado por Alex Ferguson, atual treinador do Manchester United, que venceu três vezes a Scottish Premier League, sendo a última em 1985. Até hoje foram apenas nove equipes que desbancaram os dois gigantes de Glasgow, em um campeonato disputado desde 1891. Em termos de títulos o Rangers é o grande vencedor com 51 títulos e o Celtic tem 41, na seqüência vem com apenas quatro títulos o Hearts.
Mesmo com tanto ódio entre as torcidas fica difícil de imaginar a cidade de Glasgow sem um dos times, principalmente porque deixaria de existir uma das maiores rivalidades do mundo.
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